É muito facil utilizarmos “aquilo que é belo e espetacular” para fazer a nossa fotografia impactante.
Quando viajamos para um novo país, quando visitamos uma cidade turística, quando nos deparamos com um show visualmente encantador….
Quando nos deparamos com algo que nos parece novidade, vemos nestas situações, a oportunidade para fazer aquela fotografia perfeita.
Mas e se por alguma imposição da vida você não pudesse descobrir novos lugares? Se por alguma limitação física ou financeira você não pudesse deixar o quarteirão em que mora? Sua paixão pela fotografia dependeria essencialmente daquilo que julgamos banal. Da luz que entra pela manhã em sua janela, da placa horrivel de transito que tem na esquina, da cafeteira velha manchada que está na cozinha….
Uma das frases que mais amo é do fotógrafo Richard Avedon que diz que “o bom fotógrafo registra aquilo que a maioria das pessoas dispensa com o olhar”. Momentos, coisas, gestos sutis….a vida parece ser muito curta para conseguirmos parar e admirar “em slow motion” todos os detalhes de uma conversa entre pessoas, de um arranjo, da chuva que molha a janela de nossa casa.
Josef Sudek é um ícone quando falamos de criatividade em fotografia.
Nasceu em 1896 e chegou a lutar na primeira guerra mundial. No conflito perdeu o braço direito lutando e acabou ganhando do exército uma câmera de grande formato.
Apesar de amar registrar imagens, a deficiência lhe impôs alguns limites para a fotografia. Imagine, você ter que carregar com um só braço uma câmera de grande formato como essa abaixo.
Dificil apontar todas marcas que a guerra deixou em sua personalidade, contudo, é notório que Sudek era uma pessoa timida e muito reservada.
Fazer longas viagens, descobrir novas paisagens, visitar países vizinhos com sua câmera era com certeza muito penoso. O clima político hostil entre os países europeus pós conflito também não inspirava muita segurança para passeios.
Sudek ficou conhecido como o Poeta de Praga pela visão criativa e inovadora. Seu legado é grandioso para a fotografia fine-art.
A principal lição que podemos aprender observando seu trabalho está justamente nos temas daquilo que retratou. Para muitos a limitação de locomoção representaria o fim da vontade de fotografar…para Sudek, os detalhes do seu cotidiano, eram oportunidades para poesia. A chuva na janela de sua cozinha, o ovo que iria jantar, a planta que vivia num copo de água, a esquina de seu bairro….ele abraçava o que tinha ao alcance para poder fazer imagens marcantes. Trabalhos que inspiram até hoje fotógrafos em todo o planeta.
Sudek mostra que explorar nosso cantinho no mundo pode ser tão excitante quanto descobrir um novo lugar para fotografar. Se por um lado o que nos impede de viajar é tempo, dinheiro e saúde, por outro, o que nos limita em nossa própria casa é autenticidade e criatividade. Por essa razão é justa a visão de que o trabalho do Poeta de Praga traz muito mais inspiração do que o trabalho dos fotógrafos que simplesmente chegam lá, “no local espetacular”, e voltam com imagens menos interessantes das que Sudek conseguia fazer em sua cozinha.
Criei um álbum no Pinterest com algumas imagens de Josef Sudek. No google vocês poderão achar muito mais contéudo para se inspirar!
Eu me apaixonei pelas fotos do Sudek de cara e parei de ficar grilado com essa historia de que, qual a melhor câmera fotográfica??? Se ele fez maravilhosas fotos com uma câmera antiga pq eu não posso com uma simples ( dslr) de hoje ? Valeu pela matéria, ta show!!!